Especial: O que você precisa saber para cultivar abacaxi? Pesquisador da Unesp explica
O De Olho no Campo conversa hoje com o pesquisador Aloísio Costa Sampaio, da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru. Aloísio é professor do curso de pós-graduação em Horticultura da Unesp de Botucatu há mais de 10 anos. Ele é especialista em fruticultura, com destaque para abacaxi, maracujá, goiaba, abacate e figo.
O abacaxi, aliás, foi tema de várias de suas pesquisas e hoje Aloísio é
uma das principais autoridades do Brasil no que diz respeito à fruta. Basta
olhar o quadro pendurado na parede de sua sala no prédio do departamento de
biologia da Unesp e perceber quanto o pesquisador gosta da fruta.
A região de Bauru conta com um pequeno número de grandes propriedades
produtoras de abacaxi. Uma delas, inclusive, cultiva abacaxi há mais de 50
anos. O perfil de Bauru é diferente de cidades como Guaraçaí, no noroeste
paulista, onde está localizado o maior pólo produtor do estado, com mais de 200
produtores espalhados em pequenas, médias e grandes propriedades.
Brasil
No Brasil há predomínio significativo da produção de abacaxi da
variedade Pérola, originária do Nordeste. As principais áreas produtoras estão
no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em estados como Pará, Paraíba, Bahia e Tocantins.
- Por ser nativo de Pernambuco, ele exige
muito calor. Então, Sul e Sudeste optam por outras variedades, como o Hawaiano.
Já em âmbito global,
nações como Tailândia e Filipinas são importantes produtoras da fruta,
impulsionadas pela presença de multinacionais norte-americanas que processam o
abacaxi. Na América Central, o destaque é a Costa Rica, que exporta o abacaxi
da variedade Gold para diversos
países.
- O Brasil tem grande produção voltada
para o mercado interno. E há crescimento significativo na parte de
processamento. Suco de abacaxi, por exemplo. Na Costa Rica, a produção é para o
abastecimento do mercado europeu in natura. Filipinas e Tailândia, há a
preferência para sucos e compotas - diz Aloísio.
"O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de abacaxi"
Exemplo de 'sistema mineiro', comumente usado em Frutal-MG- Foto: Aloísio Sampaio |
Aloísio já viajou por vários estados brasileiros participando de
congressos e simpósios sobre a cultura do abacaxi e percebe que, atualmente, o
plantio de abacaxi está perdendo espaço em algumas regiões do estado de São
Paulo.
- É uma série de fatores, como a
disponibilidade de área, já que houve um crescimento forte em arrendamentos
para eucalipto, cana-de-açúcar e citricultura - explica.
Aloísio enumera outros fatores, como a estabilidade do preço do abacaxi
nos últimos cinco anos em contrapartida com o crescimento dos custos de
produção, como fertilizantes, insumos, combustível e valor da diária dos
trabalhadores. As condições climáticas também não tem sido favoráveis.
- Apesar de a cultura do abacaxi ser altamente resistente à
seca, os últimos três anos, com secas prolongadas, fizeram com que houvesse uma
queda de produção. A questão climática tem sido um empecilho para quem não tem
irrigação - comenta.
Durante o amadurecimento os frutos são envolvidos com jornal para evitar que sejam “queimados” pelo sol. Foto: Aloísio Sampaio |
A escassez de mão de obra também preocupa, já que durante três períodos
do ciclo do abacaxi, com duração entre 18 e 20 meses, é preciso contar com
trabalho manual.
- O plantio das mudas, o ensacamento dos
frutos e a colheita ainda não podem ser mecanizados. Nesses últimos anos houve
um aquecimento muito grande da construção civil. Isso impactou a mão de obra no
campo - continua.
Inovações
Durante os eventos que participa, Aloísio entra em contato com inovações na produção, como por exemplo técnicas de irrigação e práticas que possibilitam o aumento do número de plantas por hectare.
- No último Simpósio de Abacaxi realizado em Tocantins, houve uma demonstração de campo do primeiro equipamento para plantio de mudas de abacaxi, possibilidade que não existia anteriormente - revela.
Lembrança recebida em um dos eventos sobre o cultivo de abacaxi. Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo |
- Alguns produtores estão adotando máquinas com pneus finos e mais altos, fazendo com que sejam eliminados os carreadores, as áreas ociosas que ficam sem produção. São áreas menores, um hectare, dois hectares, em que é feita a colheita com um carrinho de mão. Chama-se sistema mineiro porque está muito presente em Frutal-MG - conta Aloísio.
A possibilidade de antecipação da colheita do abacaxi é tradicional, mas
requer conhecimento do manejo cultural para decisão do momento a ser realizada
a indução floral artificial.
"Se a planta tiver um bom desempenho vegetativo existe a possibilidade de antecipar a safra utilizando um hormônio sintético. Então, a planta paralisa seu crescimento vegetativo e inicia a fase reprodutiva, que é a inflorescência (fruta)".
O abacaxizeiro, para entrar em fase reprodutiva, precisa de dias com menos luz, característicos do inverno.
- Esse período climático, de queda de temperatura e redução de luz no dia, faz com que a planta inicie sua fase reprodutiva, que culmina na colheita em dezembro, safra natural.
Desafio da pesquisa:
Falta um produto que consiga inibir esse processo natural com eficiência
e sem efeitos fitotóxicos, em teste por pesquisadores e empresas da área.
- Nosso desafio é atrasar a safra para
fevereiro e março, períodos de difícil oferta regular de frutos da cultivar Smooth
Cayenne.
Agora, um jogo rápido com vários dados sobre a produção de
abacaxi. Em um hectare cabem 35.000 plantas, que produzem um fruto
cada. O espaçamento é feito em linhas duplas, localizadas meio metro uma
da outra. Na linha, cada muda é distante uma da outra em 30 centímetros. O
terreno mais adequado para o plantio é o tipo arenoso ou areno-argiloso.
O preço médio do kg da fruta é de R$ 0,90, sendo que nos meses de
fevereiro e março/2014 chegaram ao patamar de R$ 1,50/kg. Se as frutas
forem comercializadas nesse preço a rentabilidade de um hectare atingirá
aproximadamente R$ 50.000, contra investimento inicial próximo de R$
20.000. Nunca existirá uma safra com 100% de aproveitamento nessa cultura.
Problemas com frutas pequenas, pragas e doenças fazem parte. Uma perda total de
15% é algo bem razoável.
Cada abacaxi pesa aproximadamente 1,8kg. Os maiores gastos são com
herbicidas, fertilizantes, mudas e mão de obra.
- A muda é um investimento inicial
bastante alto para os produtores iniciantes. Depois que você colhe essa fruta,
você tem praticamente o dobro de mudas. Se eu plantei 35 mil, eu vou ter aproximadamente
70 mil mudas para o próximo plantio - garante.
As mudas devem ser classificadas de acordo com seu tamanho e tipo.
Dependendo do porte, algumas produzem mais cedo e outras têm ciclo mais tardio.
Se não for feita a classificação, pode haver irregularidades. É mais
interessante plantar áreas menores, mas em anos contínuos.
- É preferível plantar cinco hectares em
2014 e cinco hectares em 2015, porque a partir de 2016 você passa a ter uma
safra por ano e mudas todos os anos. É melhor do que plantar 10 hectares em um
ano e não ter plantio no outro. A partir de 15 a 18 meses, você passa a
ter renda e mudas próprias todo o ano - aconselha.
Mais informações sobre o cultivo de abacaxi podem ser encontrados no site da Embrapa ou entrando em contato com o professor Aloísio (aloisio@fc.unesp.br).
O De Olho no Campo agradece pela atenção de Aloísio Sampaio e pelas fotos tiradas pelo pesquisador.
O De Olho no Campo agradece pela atenção de Aloísio Sampaio e pelas fotos tiradas pelo pesquisador.