Como evitar acidentes de trabalho na agropecuária? Veja nessa entrevista

Mais de 60% dos acidentes no campo são causados por capotamentos de tratores. O homem é o responsável em mais de 80% dos casos. 

Paulo Palma Beraldo

Você sabia que todo ano mais de dois milhões de pessoas perdem a vida ao redor do mundo em acidentes de trabalho ou doenças geradas no ambiente profissional? 


E que esta é a segunda atividade que mais mata no mundo? Os dados são da Organização Internacional do Trabalho. 


É por isso que o De Olho no Campo fala sobre esse assunto. Vamos ver quais são os principais acidentes na agropecuária e como evitá-los.  


A conversa de hoje é com Leonardo de Almeida Monteiro, pesquisador da Universidade Federal do Ceará e coordenador do Laboratório de Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas (LIMA)


O trabalho do LIMA é importante para reduzir a escassez de informações sobre acidentes agrícolas. Já foram publicados livros e realizados eventos sobre a prevenção de acidentes na agropecuária em diversos locais. A página no Facebook do LIMA tem mais de 5.000 seguidores. 


- Procuramos sempre interagir com outras instituições. Assim aumentamos nosso potencial de captação de informações e também de divulgação. Não são muitos pesquisadores que trabalham com o tema. Precisamos de mais pessoas engajadas nesse processo - comenta Leonardo Monteiro. 



Dados
A principal ocorrência de acidente no meio rural é o capotamento de tratores. Esse tipo de acidente corresponde a 60% dos casos. As principais causas são a falta da Estrutura de Proteção ao Capotamento e a falta do uso do cinto de segurança. Muitas vezes isso causa o esmagamento do operador.

Já na pecuária de corte, a principal ocorrência são os acidentes envolvendo mecanismos acionados pela tomada de potência (TDP), como os cardãs. Neste tipo de acidente, os envolvidos podem até perder a vida. 


Além disso, na pecuária há um grande número de atividades realizadas com implementos como roçadeiras, picadoras de capim, desintegradoras de forragem, enfardadoras, ceifadoras entre outras. 


Em média, o tempo de recuperação de um acidente no campo leva 40 dias. Os custos são altos, envolvendo cirurgias, remédios e as atividades na propriedade ficam paralisadas pois não há outra pessoa para substituir o que se acidentou. 


- A maioria dos acidentes que compilamos tem como causa principal o excesso de confiança do operador aliado à negligência dos procedimentos de segurança para a operação do conjunto trator implemento. Também a falta de conscientização e desconhecimento da atividade e do funcionamento da máquina que ele vai operar. Em mais de 80% dos acidentes, o homem foi o causador - resume Leonardo. 


Documento pode ser acessado por esse link.


Na opinião do pesquisador, é preciso investir mais em segurança. Leonardo diz que alguns têm a impressão errada que prevenção é custo, quando na verdade é investimento. 


- Precisamos trabalhar a conscientização, investir mais intensamente em treinamentos e aumentar a fiscalização. Neste sentido, estaremos dando o primeiro passo para redução dos acidentes no campo


De Olho no Campo: Como funciona o Laboratório de Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas? Como é o trabalho do grupo? 
O LIMA é um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Ceará, com sede no Departamento de Engenharia Agrícola. É composto por professores, pesquisadores, alunos de mestrado e Doutorado do Programa de Pós graduação em Engenharia Agrícola. 

Atuamos no levantamento e prevenção dos acidentes envolvendo as máquinas agrícolas, principalmente o trator, através de levantamento de dados e informações dos acidentes que ocorrem com este tipo de veículo tanto no campo como nas cidades, visto que carecemos muito de informações acerca deste tema.

Desenvolvemos também várias pesquisas voltadas para a melhoria da ergonomia e da qualidade na operação das máquinas, além de levar informação para melhorar a capacitação dos envolvidos no processo entre eles os operadores, através da publicação de livros, artigos em revistas e redes sociais.

Além do levantamento diário de acidentes para alimentar nosso banco de dados, o LIMA vem realizando estudos baseados no tipo, na causa e em vários outros fatores com o objetivo de identificar as causas e propor ações no sentido de prevenir os acidentes que são causados pelo uso desses equipamentos. 

Trabalhamos no enquadramento das legislações vigentes quanto as Normas Regulamentadoras, principalmente NR 31, 12 e 15, além de cursos de treinamento e qualificação, desenvolvendo nos trabalhadores o senso de prevenção e a conscientização da operação segura do conjunto trator e implemento.

De uma maneira geral, como o senhor avalia os sistemas de segurança das máquinas agrícolas comercializadas no Brasil?
Os mecanismos de segurança que temos hoje nas máquinas que circulam no Brasil evoluíram bastante nestes últimos anos. 

Mas ainda deixam a desejar se compararmos com outros países onde a legislação e a conscientização é maior. Podemos citar, por exemplo, o uso de freios ABS e de Sistemas de Amortecimento que, além de melhorar a segurança, também aumentam o conforto e a qualidade de operação. 

Quais são os tipos de acidentes mais frequentes?
Vivemos hoje no Brasil duas situações bem distintas que envolvem os tratores: 

A primeira são os acidentes que ocorrem com a circulação destas máquinas em vias públicas, principalmente rodovias, durante o deslocamento para as áreas de trabalho. 


Neste caso o acidente mais frequente é a colisão. Principalmente a colisão traseira, correspondendo a 85% dos acidentes. Segundo nossos levantamentos, nos últimos 3 anos foram mais de 1.000 acidentes contabilizados nas rodovias federais brasileiras. 

A segunda se refere ao acidente ocorrido na lavoura. Neste caso, o acidente mais frequente é o capotamento, responsável por 60% dos acidentes, acompanhado dos acidentes com tomada de potência, queda de cima do trator, etc.




Como eles poderiam ser evitados?
A principal forma de evitar os acidentes é por meio da conscientização, treinamento e capacitação, além de ações de prevenção dos acidentes nesta atividade que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), é a segunda atividade que mais mata no mundo.

Que cuidados o proprietário deve ter com seu trator para que ele tenha menos 
acidentes e falhas mecânicas? Como manutenção preventiva e outras ações semelhantes. 
Primeiramente entregar o trator a pessoas capacitadas para operá-lo, participar de treinamentos e capacitações que frequentemente são realizadas pelos sindicatos rurais, secretarias de agricultura etc. 

Incentivar a leitura e o uso corriqueiro do Manual do Operador pelos usuários da máquina, para que não só operem o trator com conhecimento mas que também realizem as manutenções periódicas e mantenham o trator em condições de funcionamento dos seus componentes e sempre respeitar os limites da máquina e do homem.

Que erros os produtores cometem com os tratores no uso cotidiano que podem causar problemas no futuro?
A operação errada do trator, trará sempre problemas principalmente para a vida útil da máquina. Um dos erros mais comuns cometidos pelos operadores e muitas vezes por falta de informação é trabalhar em rotações e velocidades inadequadas para a atividade que está sendo executada. 

Além de implementos mau regulados, a colocação de pesos no trator de forma incorreta e vícios operacionais tais como pé no pedal da embreagem, acelerações em demasia, trocas de marcha sem uso da embreagem também são constatados. 

Tudo isso, além de aumentar a possibilidade da ocorrência de acidentes, sobrecarrega os sistemas e componentes do trator diminuindo sua vida útil. 

Como a página do LIMA no Facebook tem contribuído para o trabalho do grupo? 
O uso das redes sociais tem aumentado o potencial de divulgação dos nossos trabalhos e do conhecimento que geramos. Temos recebido muitas respostas de vários países do mundo, onde as informações geradas por nós têm contribuído para a melhoria da atividade e consequentemente da segurança.

Saiba mais sobre o LIMA. 
Facebook: https://www.facebook.com/acidentes 
Site: www.lima.ufc.br
Twitter: @acidentestrator