Pesquisas utilizam microrganismos para gerar produtos químicos a partir da glicerina
Eles são muito pequenos, mas podem funcionar como verdadeiras biofábricas. Bactérias, fungos filamentosos e leveduras podem transformar fontes de Carbono em diversos produtos.
Um bom exemplo é a fermentação de açúcares, transformando o caldo da cana em etanol, que acontece em usinas pelo interior do País.
Agora, pesquisadores da Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) estão apostando nas habilidades de microrganismos para transformar em produtos com alto valor agregado a glicerina, principal coproduto da produção de biodiesel.
O desafio é encontrar espécies que utilizem esse material como fonte de carbono e produzam de modo eficiente compostos de interesse da indústria.
Na primeira etapa dessa busca, os cientistas analisaram cinco mil linhagens de bactérias e leveduras. O trabalho, financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq), durou dois anos e resultou na seleção de dez linhagens promissoras.
O pesquisador líder da iniciativa, João Ricardo Moreira de Almeida, conta que as cepas selecionadas mostraram-se capazes de produzir, entre outros, butanodiol, propanodiol e ácido lático.
Tais produtos já são utilizados na indústria química, especialmente na fabricação de plásticos, solventes e insumos para o setor automobilístico.
Trabalho paralelo foi desenvolvido em 2012 pela também pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Mônica Caramez Triches Damaso, durante pós-doutorado no Instituto Militar de Engenharia (IME/RJ).
Nessa pesquisa, ela testou fungos filamentosos e duas linhagens foram capazes de consumir a glicerina gerando sorbitol e xilitol, que são utilizados nas indústrias química, alimentícia e farmacêutica.
Com esses resultados em mãos, a equipe está iniciando um novo projeto, também com recursos do CNPq, no qual os estudos com os doze microrganismos considerados promissores serão aprofundados. Um dos desafios é produzir em volumes maiores o que foi obtido em pequenos frascos nos laboratórios. - Nós vamos aumentar a escala de produção até chegarmos aos biorreatores de bancada - diz Mônica.
Além de aprofundar os estudos sobre os microrganismos já selecionados, a equipe vai buscar outras linhagens capazes de converter glicerina em produtos químicos. Para identificar as substâncias produzidas, será utilizada espectrometria de massas.
A principal vantagem dessa técnica instrumental de análise é o fato de ser mais sensível e seletiva do que outros métodos. Já para quantificar as substâncias será utilizada cromatografia líquida.
Outra novidade do projeto é a avaliação do desempenho dos microrganismos em glicerina obtida da produção de biodiesel com óleo de dendê e comparação dos resultados gerados com o coproduto da fabricação do biodiesel de soja.
Atualmente, mais de 70% do biodiesel brasileiro tem como matéria-prima o óleo da soja, mas, com o aumento do consumo, há a expectativa do uso do dendê para ajudar a suprir o mercado.
A produção de biodiesel gera grande quantidade de glicerina. Para cada 90m³ do biocombustível obtidos, são gerados 10m³ do coproduto. No Brasil, atualmente, ela tem sido queimada em caldeiras para gerar energia ou exportada na forma bruta.
A expectativa é que a obtenção de produtos químicos com maior valor agregado contribua para o desenvolvimento da cadeia produtiva do biodiesel. - Nós esperamos gerar tecnologia que possa ser usada nas indústrias, no conceito de biorrefinarias - explica Mônica.
O projeto iniciado na Embrapa Agroenergia conta com a parceria do IME/RJ e da Embrapa Amazônia Ocidental.
Fonte: Vivien Chies/Embrapa Agroenergia
Foto: Priscila Botelho