Entrevista com Dirk Ahrens, pesquisador do IAPAR especializado em agroecologia e agricultura orgânica
O assunto hoje é agricultura familiar e produção orgânica de alimentos.
O De Olho no Campo falou com o agrônomo Dirk Claudio Ahrens, especialista em agricultura orgânica e agroecologia.
Dirk trabalha no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) desde 1980 e nos últimos anos tem trabalhado com agricultura orgânica.
Entre os desafios do segmento, explica Dirk, estão a conquista de mercado e uma maior facilidade na hora de comercializar os produtos, já que ainda há muita burocracia.
Dirk também é membro da Rede Paranaense de Pesquisa em Agroecologia e conta mais sobre ela:
- A Rede tem por missão acolher e conectar colaboradores para potencializar a pesquisa em agroecologia e sua comunicação. Assim, todos aqueles que desenvolvem ou querem desenvolver trabalhos de pesquisa em agroecologia tem a Rede para fazer intercâmbio de experiências - explica Dirk Ahrens.
A seguir, a entrevista.
Para começar, gostaria que o senhor contasse um pouco mais sobre sua trajetória e função no Iapar.
Ocupei alguns cargos
gerencias desde que ingressei no IAPAR em 1980. Trabalhei com produção de
sementes e pesquisas na secagem e tratamento com pós inertes de sementes.
Em
2000, assumi o trabalho com agricultores experimentadores agroecológicos no
centro sul do Paraná. Em 2006, fui convidado para liderar o Programa de
Agroecologia no Iapar. Enriquecemos o programa com uma gestão compartilhada com
a equipe permitindo um trabalho coeso e crescente de trabalhos de pesquisa
voltados à produção de base ecológica.
Paralelamente, desenvolvemos trabalhos de
acompanhamento socioeconômico de propriedades familiares de base ecológica no
centro sul do PR e da diversificação das áreas com cultivo de tabaco.
Os
resultados de pesquisa têm mostrado a eficiência socioeconômica de propriedades
familiares de base ecológica. Há alternativas viáveis (diversificação
horizontal com várias culturas, criação de animais... e também vertical na agroindustrialização
e certificação orgânica da produção) para competir com a renda advinda do
cultivo do tabaco.
Como é a
agropecuária na região do Centro-Sul paranaense, composta por 18 municípios e mais de aproximadamente 1,6 milhão de
hectares?
A
região centro-sul do PR apresenta uma grande diversidade de cultivos e de áreas
exploradas, em função da topografia imprópria, qualidade física – solos rasos,
arenosos, pedregosos.
Assim, áreas com topografia que permitam a mecanização e solos profundos são ocupadas por uma agricultura de commodities em larga escala, em plantio direto.
Assim, áreas com topografia que permitam a mecanização e solos profundos são ocupadas por uma agricultura de commodities em larga escala, em plantio direto.
Áreas não favoráveis à mecanização abrigam cultivos de subsistência, de extrativismo (erva mate) e exploração florestal. A produção orgânica tem crescido em termos de produção, de ocupação de áreas e da oferta diversificada de produtos na região.
Qual
a importância da agricultura familiar no Paraná? Qual o maior entrave
para o desenvolvimento da agricultura familiar?
Mais de 70% das áreas de
cultivo no PR são ocupadas por agricultores familiares. Grupos voltados ao
grande agronegócio criticam que muitos agricultores não adotam tecnologias de
ponta disponíveis, o que não é verdade.
Há uma vertente crescente que vem optando por tecnologias que não degradam o ambiente, não utilizando agroquímicos e oferecendo alimentos mais saudáveis. São os alimentos orgânicos, que recebem o selo de certificação por parte de entidades certificadoras.
Alguns entraves, sob nosso olhar podem ser enumerados:
1 - pouca tecnologia adaptada à agricultura familiar;
2 - pouca pesquisa e recursos para tal em alternativas ao uso de agroquímicos;
3 - desmonte da assistência técnica e extensão rural por parte do atual governo;
4 - disponibilidade de recursos financeiros e com menor burocracia para a comercialização de produtos da agricultura familiar nos moldes dos programas do governo federal como o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (entrega de alimentos da agricultura familiar para creches, asilos...) e o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PNAE), com fornecimento de alimentos da agricultura familiar para escolas municipais e estaduais.
Como é o trabalho da Rede Paranaense de Pesquisa em Agroecologia (REPAGRO)? Que
avanços o segmento têm alcançados nos últimos anos?
A Rede foi criada em seminário específico para sua
formação realizado nos dias 27 e 28 de agosto de 2012 em Londrina. Os
representantes do comitê gestor foram indicados pelas organizações que
representam.
O Comitê Gestor da Rede é coordenado pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR e a Secretaria executiva é ocupada por um representante do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia – CPRA.
Os membros do comitê são representantes das seguintes entidades:
Quais os objetivos da rede?
O Comitê Gestor da Rede é coordenado pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR e a Secretaria executiva é ocupada por um representante do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia – CPRA.
Os membros do comitê são representantes das seguintes entidades:
- Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor;
- Núcleo de Marechal Cândido Rondon – CAPA;
- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Soja;
- Instituto Federal do Paraná – IFPR Ivaiporã;
- Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná – EMATER coordenação estadual de agroecologia;
- Itaipu Binacional;
- Rede ECOVIDA;
- Universidades Estaduais de Londrina, Maringá, Ponta Grossa, do Norte do Paraná e do Oeste do Paraná.
Quais os objetivos da rede?
- Identificar colaboradores (pessoas e organizações) que atuam ou que possam atuar na pesquisa em agroecologia e estimular a participação e a comunicação continua entre eles;
- Levantar e manter atualizadas as demandas de pesquisa em agroecologia para orientar diretrizes, estratégias e ações de pesquisa;
- Estimular e facilitar a formação de grupos de pesquisa e a captação de recursos;
- Disponibilizar na rede as informações existentes e comunicar os resultados de pesquisa, experiências e atividades da Rede.
A REPAGRO tem inicialmente duas grandes metas: Levantar o Estado da arte em agroecologia no PR; e realizar o Levantamento de demandas para a pesquisa em agroecologia no nosso estado. A falta de recursos para os projetos permitiu que fosse implantado apenas o primeiro.
A Rede, nos
anos de 2013 e 2014, priorizou a organização e execução do 1 Congresso
Paranaense de Agroecologia, que aconteceu nos dias 29 e 30 de maio de 2014 no
campus da Centro de Ciências Agrárias da UFPR, em Curitiba.
O 1º Congresso Paranaense de Agroecologia surgiu de demandas dentro da REPAGRO e na criação do Programa Paraná Agroecológico. Este programa, construído pela sociedade agroecológica do Paraná, é constituído por cinco eixos:
1) Formação, Capacitação, Assistência Técnica e Extensão Rural;
2) Pesquisa Agroecológica;
3) Comercialização e Mercado;
4) Legislação;
5) Organização dos Produtores e Consumidores.
Já as atividades do eixo estruturante Pesquisa Agroecológica são:
a) Articulação e fortalecimento da pesquisa em agroecologia por meio de uma Rede de Pesquisa em Agroecologia no Paraná;
b) Realização de evento estadual para a integração e articulação das ações de pesquisa/ensino/extensão em agroecologia (Congresso Paranaense de Agroecologia);
c) Formulação de editais específicos para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Agroecologia;
d) Fortalecimento e expansão das Redes de Referências em Agroecologia;
e) Criação de um Programa Estadual de Mestrado em Agroecologia;
f) Implantação / fortalecimento de Núcleos de Referência em Agroecologia;
g) Capacitação / atualização de pesquisadores / professores em Agroecologia para a pesquisa e ensino.
Com o tema “As teias da experimentação, formação e intercâmbios contribuindo com a Agroecologia no Paraná” o congresso disponibilizou a discussão das redes na agroecologia em três painéis voltadas ao ensino, à extensão, e à pesquisa.
Também foram oportunizados a apresentação de resultados de pesquisa e experiências de sucesso nas modalidades oral e pôster.
O 1º Congresso Paranaense de Agroecologia surgiu de demandas dentro da REPAGRO e na criação do Programa Paraná Agroecológico. Este programa, construído pela sociedade agroecológica do Paraná, é constituído por cinco eixos:
1) Formação, Capacitação, Assistência Técnica e Extensão Rural;
2) Pesquisa Agroecológica;
3) Comercialização e Mercado;
4) Legislação;
5) Organização dos Produtores e Consumidores.
Já as atividades do eixo estruturante Pesquisa Agroecológica são:
a) Articulação e fortalecimento da pesquisa em agroecologia por meio de uma Rede de Pesquisa em Agroecologia no Paraná;
b) Realização de evento estadual para a integração e articulação das ações de pesquisa/ensino/extensão em agroecologia (Congresso Paranaense de Agroecologia);
c) Formulação de editais específicos para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Agroecologia;
d) Fortalecimento e expansão das Redes de Referências em Agroecologia;
e) Criação de um Programa Estadual de Mestrado em Agroecologia;
f) Implantação / fortalecimento de Núcleos de Referência em Agroecologia;
g) Capacitação / atualização de pesquisadores / professores em Agroecologia para a pesquisa e ensino.
Com o tema “As teias da experimentação, formação e intercâmbios contribuindo com a Agroecologia no Paraná” o congresso disponibilizou a discussão das redes na agroecologia em três painéis voltadas ao ensino, à extensão, e à pesquisa.
Também foram oportunizados a apresentação de resultados de pesquisa e experiências de sucesso nas modalidades oral e pôster.
Uma
de suas linhas de pesquisa é a produção de sementes. Como funciona esse
trabalho?
Trabalhando
com sementes de milho e trigo armazenados e tratados com pós inertes foi
possível concluir que:
a) Para o trigo, quanto ao controle da infestação do gorgulho, o
xisto retortado e a
cinza de xisto a 0,5%
mostraram uma tendência de maior eficiência que os demais tratamentos, por um
período de um ano
b) Para o milho a cinza
de xisto, na concentração de até 0,5% (até 5 kg de pó para 1.000kg de grãos ou
sementes) foi
eficiente para o armazenamento por um ano.
De
que forma a presença da imigração europeia (poloneses, russos, ucranianos,
holandeses e alemães) influencia a agropecuária regional? Pergunto isso porque
em regiões como Castro, Arapoti e Carambeí, a presença da imigração holandesa
foi fundamental para o desenvolvimento da agroindústria leiteira.
Cada
colonização deixou mais ou menos suas características impregnadas na composição
da população regional, nas construções, nas vestimentas, nas práticas agrícolas.
Por exemplo, a região de Prudentópolis tem forte influência dos ucranianos. Já
Irati, dos poloneses. Os descentes dos alemães estão agrupados na região de
Palmeira (Colônia Witmarsum com concentração na pecuária leiteira e turismo
gastronômico) e Guarapuava (Cooperativa Agrária de Entre Rios com destaque à
produção de grãos: soja, milho, trigo e cevada).
Quando vieram para cá os
holandeses e alemães trouxeram com eles tecnologias para a agricultura e
pecuária, promovendo um desenvolvimento regional.
A
Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) estima que a produção de
derivados de frutas e legumes representa 9% das agroindústrias nacionais. Qual
o potencial de crescimento desse setor no Brasil e, em especial, no Paraná?
O
Paraná tem uma diversidade climática que permite a produção de frutas
subtropicais (região centro-sul: pêssego, nectarina, caqui, maçã, kiwi, uva de
mesa e indústria) e tropicais (litoral: banana e acima da serra do cadeado –
região norte e noroeste: abacaxi, uva Itália, manga, citros).
Uma das famílias acompanhadas no projeto da rede de agricultores familiares em transição agroecológica tem uma agroindústria de sucos de uva e vinho orgânicos na região de União da Vitória.
Agricultores familiares relatam que algumas dificuldades para estabelecer uma agroindústria são a obtenção de informações necessárias para a instalação, regularização e comercialização dos seus produtos. Muitos desistem antes mesmo de começar devido à complexidade do processo. Como o senhor enxerga essa questão?
Uma das famílias acompanhadas no projeto da rede de agricultores familiares em transição agroecológica tem uma agroindústria de sucos de uva e vinho orgânicos na região de União da Vitória.
Agricultores familiares relatam que algumas dificuldades para estabelecer uma agroindústria são a obtenção de informações necessárias para a instalação, regularização e comercialização dos seus produtos. Muitos desistem antes mesmo de começar devido à complexidade do processo. Como o senhor enxerga essa questão?
Temos acompanhado, não
de forma direta, a instalação de pequenas agroindústrias nas
famílias acompanhadas em nosso projeto.
Há recursos financeiros disponíveis de várias fontes governamentais (Ministério do Desenvolvimento Agrário, BNDES etc) para o financiamento delas.
Vejo que o entrave maior está na legislação que impõe uma série de condições: na construção de pequenas unidades (tamanho mínimo, azulejamento até o teto etc que encarecem a obra); na regularização jurídica, fiscal, tributária, sanitária (municipal SIM, estadual SIE e federal SIF), ambiental; e nos registros no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Há recursos financeiros disponíveis de várias fontes governamentais (Ministério do Desenvolvimento Agrário, BNDES etc) para o financiamento delas.
Vejo que o entrave maior está na legislação que impõe uma série de condições: na construção de pequenas unidades (tamanho mínimo, azulejamento até o teto etc que encarecem a obra); na regularização jurídica, fiscal, tributária, sanitária (municipal SIM, estadual SIE e federal SIF), ambiental; e nos registros no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Quanto à produção agroindustrial, ela tem que se ajustar ao mercado. O agricultor tem que encontrá-lo e conquistá-lo com produtos de qualidade e em quantidade.
Aí a participação em uma cooperativa facilita em muito a comercialização da produção, bem como a aquisição de insumos.
Quanto à produção orgânica de alimentos que entraves
existem?
Há limitações na produção e na
comercialização de alimentos orgânicos. Na produção, faltam novas tecnologias,
principalmente quanto ao controle de pragas e doenças, bem como o ajuste e
disseminação de tecnologias já existentes.
Na comercialização estão, pelo meu olhar, os maiores entraves. Na produção convencional as cadeias produtivas já estão organizadas, como no caso do leite (pecuarista - linhas de leite - indústria de laticínios - comércio - consumidor), o que não acontece com a maioria dos produtos orgânicos de origem animal ou vegetal.
Na comercialização estão, pelo meu olhar, os maiores entraves. Na produção convencional as cadeias produtivas já estão organizadas, como no caso do leite (pecuarista - linhas de leite - indústria de laticínios - comércio - consumidor), o que não acontece com a maioria dos produtos orgânicos de origem animal ou vegetal.