Mesmo com a crise, mercado de alimentos saudáveis cresce e recebe investimentos
Setor teve crescimento de 58,3% nos últimos cinco anos; Brasil é o 6º colocado no ranking global
Paulo Palma Beraldo e Ludimila Honorato
O mercado de alimentos e bebidas saudáveis tem ganhado cada vez mais investimentos no Brasil. Sexto colocado no ranking global de 2017, o País cresceu 58,3% entre 2012 e 2017, segundo a agência de pesquisas Euromonitor. Mesmo com a crise, a expectativa é de evolução e espera-se que o País ocupe a quinta posição no ranking mundial em 2021, ultrapassando a Alemanha e ficando atrás de EUA, China, Japão e Reino Unido.
Falta de tempo, necessidade de perder peso ou busca por uma alimentação melhor explicam a demanda em ascensão. De acordo com o relatório QTrends, da Equilibrium, 49% dos brasileiros se mostram preocupados em consumir alimentos mais saudáveis. Eles também ficam atentos ao rótulo e se importam com o sabor, considerado o primeiro fator de escolha quando estão em busca de uma alimentação saudável.
Mas o mergulho das pessoas em produtos mais saudáveis pode ser mais lento devido a outras urgências e fatores como o preço. “Produto saudável no Brasil não é tão bom nem barato quanto lá fora, que tem uma cultura que favorece essa adesão”, explica Cynthia Antonaccio, sócia-diretora da consultoria Equilibrium.
Bertrand Chambert-Loir, presidente da Ateliê do Sabor no Brasil, uma das principais do ramo de produtos saudáveis, é otimista com a demanda crescente. Sua empresa investiu R$ 15 milhões em 2017 e espera crescer 40% em 2018.
“O tempo para preparar alimentos está cada vez menor, então a gente enxergou que tinha um crescimento grande da alimentação fora do lar e que isso ia se acelerar, porque é um país muito urbano”, diz. A fábrica, instalada em Ibiúna desde 2013, produz cerca de 30 mil produtos por dia que vão para 1.400 pontos de venda em São Paulo e Rio de Janeiro.
“O Brasil tem uma cultura gastronômica muito europeia. Para nós, franceses, é mais fácil entender e adaptar o que a gente sabe fazer para o paladar brasileiro”, explica Chambert-Loir.
Entre 2017 e 2022, a Euromonitor prevê um crescimento de 14,7% desse mercado, passando do faturamento de US$ 24,7 bilhões para US$ 31,5 bilhões. Os números consideram o quanto foi vendido para o consumidor na ponta final nos canais de varejo no Brasil.
Além de partir da demanda do consumidor, a adesão ao setor de saudáveis começa no pequeno empreendedor, que aposta na personalização. “As pequenas apertam o gatilho para que o mercado de alimentação saudável chegue às grandes empresas e cresça”, diz Antonaccio, da Equilibrium.
Oportunidade. A gerente financeira Tatiana Gonzaga investiu no próprio negócio de alimentação saudável em 2014. Sua empresa, o Império das Dietas, vende kits de refeições mensais e avulsos para mais de mil clientes em São Paulo, São Bernardo e Jundiaí. Com investimento inicial de R$ 20 mil, o faturamento mensal beira os R$ 170 mil.
“Eu vendo para muitos médicos, bancários, e para famílias que querem ter uma alimentação saudável mas não têm tempo", afirma. A gestora administrativa Paula Hermógenes, de 38 anos, é uma da clientes. Ela comenta que buscou qualidade de vida ao aderir a esse mercado. "Agora tenho tempo para relaxar um pouco depois do trabalho”.
A diretora financeira Maria Aparecida de Souza Lima, de 53 anos, também apostou nas marmitinhas. Ela e o marido seguiram os passos do filho, que teve de fazer uma reeducação alimentar. “Além da praticidade, o custo-benefício ajudou na decisão”, diz. Ela percebe uma forte mudança na rotina da família. “Eu cozinhava somente nos finais de semana. Agora, tenho o tempo todo livre”, conta.
Nas grandes e pequenas. No segundo semestre de 2017, a Coca Cola comprou a Verde Campo e a Unilever anunciou a compra da Mãe Terra. Para esta última, o mercado de produtos saudáveis “já é uma realidade”. “Com a aquisição da Mãe Terra, pretendemos ampliar a escala da marca. É um primeiro passo para acelerar nossa missão de trazer alimentos naturais e orgânicos a um número maior de pessoas”, diz Marina Fernie, diretora de Marketing da Unilever Brasil.
A empresa aposta no ramo diante da posição do País no ranking global e da demanda de um público cada vez mais preocupado com a alimentação. O faturamento mundial do setor para todo o ano de 2017 é estimado em quase US$ 745 bilhões - e os EUA representam 22,56% do total.