'Recursos naturais são passaporte para o futuro do Brasil', diz André Guimarães

Reportagem: Paulo Beraldo
Foto cedida pela Coalizão Brasil Clima Agricultura e Florestas

SÃO PAULO - O Brasil tem hoje duas missões: a primeira é ser um fornecedor importante de alimentos para o mundo e a segunda é reduzir as mudanças climáticas em curso. A avaliação é do engenheiro agrônomo André Guimarães, um dos representantes da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, grupo que une 180 entidades do agronegócio e do meio ambiente. 


Em entrevista ao De Olho no Campo, André relembra que o Brasil responde por 7% da exportação mundial de alimentos, tem a maior biodiversidade do planeta - quase 20% - e o setor agropecuário responde por quase 1/4 do PIB brasileiro. "O bom manejo dos recursos naturais é o passaporte para o futuro do Brasil. Essa é a nossa galinha dos ovos de ouro", avalia. 

André Guimarães acredita que o País vive um bom momento de politização em que é possível fazer reflexões de alto nível sobre os desafios da produção de alimentos. "Mas ainda não há uma discussão à altura da importância que o uso da terra e a preservação ocupam no Brasil", afirma. 


Para ele, é preciso colocar o Brasil em uma "nova estatura" no cenário global. "Se exercermos bem o papel da segurança alimentar e da mitigação das mudanças climáticas, vamos subir na importância e no peso que temos", afirma. Ele propõe um exercício de imaginação: "Se o Brasil desaparecesse do planeta hoje, seria um colapso mundial. Não se pode negligenciar nem diminuir essa importância". 

Nos últimos 40 anos, o Brasil passou de importador de alimentos para ser o terceiro maior exportador de produtos agrícolas. Para o futuro, no entanto, André Guimarães projeta que novos pressupostos devem dirigir a produção agropecuária. Agora, a premissa é a da intensificação: produzir mais nos espaços já disponíveis. 

'Capacidade fotossintética'
André diz que o maior ativo do Brasil não é a produção de soja, de açúcar ou carne bovina. "É a capacidade fotossintética. Se não tivesse isso, não tinha pasto e boi para exportar, não tinha soja. Como manter essa capacidade para gerar dividendos? Cuidando dos solos, das florestas, das águas e produzindo tecnologias adaptadas para não danificar esses fatores de produção", reforça. 

Um dos tópicos levantados pela Coalizão é uma nova arquitetura econômica com mais incentivos à produção agropecuária com menor emissão de carbono, por exemplo. Outra necessidade citada é a agregação de valor nos bens agrícolas produzidos. 

A Coalizão lançou o documento Visão 2030-2050, com propostas para que o País tenha um ambiente mais harmonioso capaz de produzir mais alimentos sem desmatar.