Ricardo Campo: 'Precisamos contar a história por trás dos alimentos'
Paulo Beraldo
SÃO PAULO - Coordenador de inovação da multinacional Raízen - joint venture da Cosan e da Shell -, o publicitário Ricardo Campo diz que as empresas com atuação no agronegócio devem "contar a história por trás dos alimentos". O objetivo, diz ele, é aumentar a conexão entre quem produz comida e quem consome - no campo ou nas cidades.
Ricardo conta que países da própria América Latina como a Colômbia já realizaram trabalhos exitosos de marketing promovendo a valorização dos agricultores e colhem resultados significativos. Lá, foi criado até mesmo um personagem, no ano de 1958: Juan Valdez, um senhor de bigode e chapéu característicos ao lado de uma mula, que incorporou a tradição da produção cafeeira no País e é conhecido ao redor do mundo.
"As pessoas procuram histórias. Na Colômbia, existe essa percepção de qualidade que se espalhou para outros países. Mas não é da noite para o dia, esse trabalho é desenvolvido há mais de 40 anos". Segundo ele, o exemplo pode ser seguido pelo Brasil, que tem adotado boas práticas na agricultura e tem nos valores da sustentabilidade e da "brasilidade" uma oportunidade.
Ricardo sugere, no entanto, ações coordenadas e não individuais. "É necessário uma cooperação envolvendo vários atores, associações, federações e entidades, mais do que agentes com iniciativas pontuais. Assim, ganha o agronegócio como um todo", diz.
Ele também diz que as embalagens são plataformas por vezes pouco utilizadas para contar histórias. "Ela reúne na palma da mão a história de uma produção: pode ter rastreabilidade, certificação, selos de sustentabilidade, indicação geográfica, denominação de origem. Está ali o caminho e a história do produto". Na sua avaliação, em tempos em que a sociedade está mais conectada, especialmente crianças e jovens, há grandes oportunidades para aproximar produtor e consumidor.
Gestor do hub de inovação Pulse, criado pela Raízen e que hospeda 25 startups do agronegócio em Piracicaba-SP, Ricardo diz que as agtechs também precisam investir mais em marketing e comunicação.
"O grande desafio é mostrar com clareza para os agricultores quais os benefícios que cada empresa oferece: Aumento de produtividade? Melhor rendimento por hectare? Redução do uso de insumos? Não adianta ter um bom produto no laboratório se ele não for compreendido pelos empreendedores do campo. Precisamos traduzir o 'tecniquês' para o 'agrês' e mostrar qual dor a startup vai ajudar a resolver".
Produção sustentável deve ser destacada em ações de marketing, defende Ricardo Campo. Foto: Wenderson Araújo/CNA |
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